Rascunhos não mais
Andei rascunhando com
grafite páginas incompletas, que tentaram retratar amores sentidos, nem sempre
vividos.
Letra fina, trêmula
quando se dava conta da insegurança que aquele sentimento causava.
As frases quase sempre
terminavam com reticências, quando não eram brindadas com pontos de
interrogação vindos do fundo da alma.
Avistava o provável
alvo das minhas expectativas e o meu peito transbordava, sacudia de emoção e
fazia a mente querer balbuciar: agora sim!
Fazia tantas
conjecturas, viajava tanto nas infindáveis possibilidades, que por vezes não
sentia falta de dormir; aquilo já era o próprio sonho.
Histórias de amor
perfeitas na imaginação, que de tão descuidadas esqueciam-se de esperar pelo
tempo certo de se tornarem reais. E morriam antes de nascer.
Diziam-me o importante
é saber esperar. Mas de tanto menos esperar já não sabia se tinha perdido algo pelo
caminho.
Houve aquelas histórias
de amor incompletas, que mal passaram de um rascunho tosco e desprovido de um
mínimo sequer de arte.
Outras existiram mesmo
antes de serem transportadas para o papel; só que na lucidez de uma mente
sonhadora tiveram início, meio e fim (todos felizes).
E essas páginas foram
viradas, ainda que não concluídas.
Há de chegar o dia em
que o meu desejo de concluir uma história de amor impressa nas páginas da minha
vida será realizado; poder preenchê-las com letras harmônicas (nossas e entrelaçadas
como devem estar); rascunhadas não mais, ao contrário, firmes a ponto de marcar
o papel, tão seguras de si a ponto de emendarem-se a outras tantas páginas, tantas
que faltará leitor para acompanhá-las.
E essas novas páginas
olharão para as antigas, certas de que o caminho rascunhado de antes, de alguma
forma, nos aproximou e nos tornou o que somos hoje: amantes das vivências, ávidos
por preencher o papel vazio da vida que nos resta com nossas melhores
impressões, nossos melhores sentimentos, nossas melhores atitudes.
Assim será nosso
encontro, e qualquer rascunho sentirá inveja da firmeza ao imprimirmos nossa
história sobre as muitas páginas que ainda nos caberão compor, recheadas e
temperadas com pitadas de fervor, doçura e ânsia de plenitude.