Para falar sobre a raça humana, faz-se incontinenti separar para análise a espécie feminina. Espécie sim, porque conserva caráter único, essência que só a ela é comum.
Desconhecemos por inteiro a dimensão onde elas hibernam antes de se formarem e quais os elementos passam a fazer parte de sua estrutura física e psíquica.
Não raciocina sem antes fazer uma série de considerações, todas sentidas, sofridas e com uma carga esplendorosa de introspecção.
E sofre a dor do outro, divide todos os sorrisos. Mas delira, fantasia; é capaz de criar um universo paralelo, recheado de detalhes. Consegue até se ver como personagem do mundo do outro, mesmo que esse outro tenha apenas lhe remetido um ligeiro e sutil olhar.
E com tudo isso, espera ser compreendida, respeitada, admirada. Doce e ingênuo desejo. Mas eu lhe digo: há de chegar a hora em que um ser, pouco mais provido de sensibilidade, entenderá que é exatamente dela que ele retira seu sopro de vida, sua fonte de vitalidade. Aí, muitas palavras serão desnecessárias.
Mas voltemos a falar da espera. Esse exemplar da raça humana conta que vai agradar, espera que vá ser mais do que notada, torce para que seja vista além da aparência, sonha encontrar alguém que irá povoar todos os seus pensamentos, com a certeza de que o mesmo ocorrerá com o outro.
Acredita no poder do sorriso, desdobra-se em cuidados, exagera nos gestos, põe mais brilho onde nem precisa, veste-se para abalar, faz seus dias renderem em dobro, tão grande é sua vontade de abraçar todos os desejos do outro.
Explora todas as possibilidades de comunicação, das materiais e sensoriais às internauticas. E tem aquela que acredita estar diante de um semideus, que aparece numa imagem, nem tão nítida assim, numa tela de computador.
E se embebeda do que lhe escrevem. Até se embevece dos elogios tecidos a sua pessoa. E acredita, o que é pior! E fala mais, muito mais do que deveria, escancarando suas dores, seus lutos, suas peripécias, e cansa o outro. E não enxerga isso, está preocupada demais em agradar.
E eu, assim como outros, já falei para ela: espere menos, não se doe ao extremo, não dê tanta guarida para o sofrimento. Saiba fazer do seu momento, o momento certo e perfeito para você!
Mas quem disse que ela escuta? Só me ouve, isso porque quer companhia, quer ter a certeza de que alguém se preocupa com ela. Mas eu já falei: não quero passar meus dias a alimentar falsas expectativas, nem muito menos a fazê-la crer que é para isso que escrevo.
Escrevo sim para ela e para outras que acreditam não ter vida própria. Escrevo muito mais para dar vazão às minhas idéias, soltas, despretensiosas, mas que sem querer podem até alimentar alguns desocupados, outros ansiosos por criticar ou apenas ler letras juntadas em palavras e pensamentos. E se escrevesse somente para irritá-los de uma vez por todas, já teria vencido meu objetivo: certa de que alguém leu.
Enquanto gasto palavras tentando explicar o óbvio, não me permito compor outros raciocínios, de misturar letras sem sentido ou deixá-las ainda mais desprovidas de razão.
Porém se não existisse tanta tolice para se comentar, faltariam estímulos para os autores se manifestarem. Porque por mais que seja o texto eloquente e fiel à realidade, sempre estará carregado de impressões pessoais, num misto de olhar íntimo do autor, com as expectativas que ele tem a respeito do tema. É o seu modo particular de ver o que está de fora.
Falei de expectativa alheia e aproveitei para incluir a minha aqui também. Afinal, sou mulher, tenho minhas raízes fincadas naquele lugar inexplorado, composto de elementos etéreos indecifráveis, não seria diferente!
Tenho esperança de me superar e compartilhar. Creio na mudança, diária, tão rápida como o piscar de olhos, tão serena quanto o por do sol, tão áspera que chega a arder e a sangrar, tão breve que insiste em se repetir, tão tola quando é para o outro, tão sutil que nem chego a perceber que já se fez completa. De tão ingênua acredito no que ela pretende me dizer, mas de tão teimosa insisto para que se refaça; nova mais uma vez, engatinhando, recomeçando do zero. E ela só obedece e me acompanha; esse é o sentido da vida! Eu espero, enquanto faço acontecer.
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