OS VÍCIOS QUE NOS CERCAM
Não sou apreciadora do álcool e nem por isso sou estranha a qualquer tribo. Ao contrário, consigo pertencer, fazer parte e ser aceita. Adentro os espaços, me permito sorrir do que presencio, mas a distância e o alcance do pensamento não são palpáveis. Aqueles se portam como anestesiados, enquanto o sangue vibra intenso em mim, percorrendo naturalmente seu caminho.
Prefiro as atitudes decididas ao impulso artificial que encoraja, mas não liberta, realiza, mas não permanece. Ajo movida pelo desejo honesto de não precisar arrepender-me amanhã. Respeito os que assim não fazem pelo fato de que, talvez, para eles o não pertencimento ao grupo da maioria incomode mais do que ter que se manter alijado, em estado de observação e contemplação.
Não necessito do fumo e nem por isso posso dizer que sou livre de vícios. Sou viciada na arte de viver, no sorriso sincero, na doçura do abraço, na profundidade do olhar, na troca de palavras meigas e diretas. E para não parecer amarga aos olhos de uns, e às vezes a mim mesma, me debruço no chocolate. Esse não me força a nada, não me torna mais corajosa, porque a coragem ultrapassa meu ser; ao contrário, talvez, precisasse agir de forma a podá-la. Apenas fornece uma sensação de prazer e realização momentânea. Mas não é a isso que os outros vícios se propõem?
Ocorre, porém, que em excesso o cacau também é nocivo, tanto quanto o álcool e o fumo. Portanto, na realidade precisamos de uma medida menos prejudicial para buscar a felicidade perene. Até porque quando chegamos perto dela e não estamos na mais íntegra e salutar atitude, ela se esvai, fica arredia, escorregadia e teimosa. Torna-se difícil de ser domada. Espera por nós e torce para que a mereçamos.
Todo dia esse exercício pode ser feito, assim ela chega em sua plenitude, nos alcança e cola de um jeito tão apertado, que nada ousará desgrudar.
Usar de qualquer artifício para se tornar mais corajoso ou aceito é abandonar a própria essência, é buscar refúgio no falso, é fingir que não possui dificuldades e limitações, é abandoná-las na esquina de um quarteirão dar uma volta nele e encontrá-las no mesmo lugar com a obrigação carrega-las de novo.
ResponderExcluirPenso da mesma forma, Robson. Somos falíveis e precisamos saber lidar com nossas limitações e imperfeições. Acredito que hoje em dia isso é ainda mais difícil, porque estamos convivendo com pessoas, nas redes sociais, principalmente, que são donas de um caráter irrepreensível, de conduta inabalável e de incrível beleza física, porque é assim que preferem se mostrar, ao invés de agirem com simplicidade e da humildade. Ocorre, porém, que isso não dá 'ibope'.
ResponderExcluirParece que alguns estão sempre buscando um encosto, uma bengala, algo que os façam assumir a personalidade e o estigma aceitos pela comunidade. Assim, sentem-se inseridos no contexto.
Esquecem-se de sua individualidade e da beleza que isso significa para o todo.